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  • Foto do escritorA coruja

Wilson Lins, 70 anos


Logo em comemoração ao 70º aniversário do mais antigo colégio de Valente

Um relato quase pessoal


Quando adentrei ao Colégio Estadual Wilson Lins no ano de 2013, não tinha muitas pretensões. Fui, confesso, um aluno minimamente esforçado, mas fiz deste ambiente minha paróquia. Despontei como ser humano e abri as portas da percepção com o Clube de Ciências Equilibrium (sediado no Colégio), o qual me estimulou a entender o mundo de maneira mais racional e filosófica, e me lançou ao contexto da Universidade.


Aqui cabe um parêntese: de maneira quase espontânea, as atividades desenvolvidas pelo Equilibrium reproduzem, ainda no ciclo básico, o que hoje se configura como os três pilares da Universidade, ou tripé universitário: ensino, pesquisa e extensão. Ensino porque nas sessões ordinárias do Clube há orientação teórica e estímulo à autonomia na pesquisa sobre o tema tratado; pesquisa porque os orientandos são instigados a realizarem revisão bibliográfica e pesquisa de campo, e por fim, extensão, por que os trabalhos/projetos estão sempre voltados para uma visão prática de sua aplicabilidade em diferentes contextos sociais e científicos. E que trabalhos e projetos têm sido gerados! Um livro à parte é necessário.


Dizia eu: de aluno, tornei-me, brevemente, professor. Fiquei entusiasmado com o convite para ensinar física, principalmente por vislumbrar a própria história do Colégio enquanto instituição. Paradoxalmente, nunca me senti à vontade na sala dos professores, e explico isso. Ficava acanhado com o fato de que naquele ambiente só havia mestres que há pouco tempo atrás tinham sido meus professores, e psicologicamente me sentia quase um aluno na presença deles. Ainda assim me dediquei com afinco ao ensino, e levo para a vida tudo que aprendi lá dentro, pois escola se faz com gente, e a convivência com o diferente tem seus conflitos intrínsecos, e por conseqüência a aprendizagem que deriva desses conflitos.


O Wilson Lins – ou familiarmente WL – é, e sempre será, minha paróquia, como a de muitos que por lá passaram ou vão passar. A cara do Colégio reflete o espírito de seus membros, cada um com uma singularidade que define a composição deste mosaico educativo do semi-árido baiano. Sertão, meus amigos, não é deserto! Chegar ali me dá a impressão de estar em casa, desde quando entro e sou bem recebido por Luís, Antônio Bigode ou Rone, até o espaço interno das secretarias, biblioteca, direção e sala dos professores, onde é sempre possível tomar um gole de café quente feito pelas carinhosas mãos das meninas da cantina. E ver os estudantes reunidos, conversando e andando pelo pátio é de um cálido saudosismo. O Wilson Lins não apenas me deu saber e oportunidade de estar diante do quadro e de uma turma como professor, mas me deu amizades, as quais espero conservar sem prazo de validade.


70 anos não são 70 dias. 70 anos não devem indicar velhice, mas sobrevida e longevidade, amém. O WL completa, curiosamente, quase a mesma idade da Universidade Federal da Bahia, a mais importante do Estado. Este número representa uma enorme responsabilidade para com a sociedade valentense, e eu não duvido de que as práticas pedagógicas ali implementadas tem tido relevância não só para a cidade, mas com o trabalho pioneiro do Clube de Ciências e Astronomia, para a própria Bahia e Nordeste. Ninguém educa impunemente. Nesse sentido, o esforço empregado pelo quadro docente e por cada gestão que se suceder no Colégio deve seguir um parâmetro que privilegie o senso crítico, a liberdade de pensamento e a consciência social e dos problemas da cidade, do Estado, do país e do mundo. Deve, igualmente, buscar fortalecer o Clube de Ciências como espaço não-formal de iniciação científica, além de promover outras atividades permanentes de caráter artístico, científico e cultural. Que tudo isso, naturalmente, não recaia sobre as costas de um único professor, mas de todo o corpo docente, buscando cada vez mais integrar alunos e comunidade.


Valente tem, em seu coração, um formador nato de grandes muros vermelhos, mas tão espaçoso e acolhedor quanto um coração materno. Desde meados da década de 1940 este formador tem lançado à comunidade local egressos que, em diferentes campos de atuação, contribuem para o progresso social da cidade e do próprio Estado. Que melhore a cada dia, e que faça da educação o pilar da formação humana, a qual lhe é delegada enquanto Escola pública. Um grande mestre disse algo memorável, e que dá uma pista sobre a problemática: “Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública.” O mestre é Anísio Teixeira, e nos tempos atuais, mais do que nunca, precisamos revisitá-lo.

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