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Foto do escritorA coruja

Vacina: um pacto coletivo



Quando éramos pequenos, nossas mães nos levavam para o posto de saúde para tomarmos vacinas, e não raramente estrebuchávamos de chorar enquanto éramos segurados e a enfermeira aplicava a injeção. Todos temos a marca da BCG no braço. Sim, essa cicatriz que você tem é a da vacina que te protege da tuberculose, e talvez seja uma das primeiras dores que sentimos quando chegamos ao mundo, depois de sair do cálido ventre materno.


No final do século XVIII, um jovem médico inglês conhecido como Edward Jenner, via uma mortandade sem tamanho de pessoas acometidas pela terrível varíola. Essa doença deixava as pessoas acamadas, ardendo em febre, e a pele sofria diversas erupções e com numerosos caroços pelo corpo. Jenner, talentoso observador, notou um fato curioso. Camponeses que lidavam com vacas não morriam de varíola. De alguma forma, eles estavam praticamente imunes à doença. O que explicaria aquele interessante fenômeno?


Ele atribuiu corretamente ao contato com as feridas das vacas, que também tinham um tipo de varíola parecida com a do ser humano. Assim, o sistema imunológico das pessoas desenvolvia a imunidade natural. Para provar isso, ele injetou pus de uma pessoa infectada numa criança e a mesma desenvolveu apenas a forma leve da varíola. Depois, repetindo o procedimento quando ela já estava curada, a criança não apresentou nenhum sintoma. Ela estava imunizada.


Isto é a vacina. É como ensinar o corpo a combater uma doença. Imagine uma tropa que vai pra guerra. Ela tem que ser treinada e bem liderada, ou será facilmente derrotada pelo inimigo. Da mesma forma, nosso sistema imune contém células que secretam anticorpos que destroem os organismos invasores do nosso corpo. Mas, para combater o bom combate, essas células precisam "aprender" a lidar com os adversários microscópicos. Senão por uma infecção prévia, por vacina. Mas a infecção natural é arriscada e mata muita gente. A vacina, por outro lado, é uma ferramenta segura, eficaz e que salva muitas vidas. A pessoa que toma a vacina pode não sentir nada a não ser dor local, ou algum sintoma como febre e dor no corpo numa minoria de vacinados, nada que um repouso ou antitérmico não resolva. Mas isso é o sinal de que o sistema imunológico está a todo vapor fazendo seu trabalho. Quando o vírus invadir o corpo, nossas células, treinadas pela vacina, nos protegerão e não desenvolveremos a doença.


Apesar da crença de que uma vez vacinados estamos completamente protegidos, é preciso que se diga: não é bem assim. Não que a vacina falhe, mas ela só cumpre seu papel fundamental quando a maior parte da população está vacinada. Isto é: a vacinação é um pacto coletivo. Por que? Pense assim: há muitas pessoas que não poderão tomar a vacina, nesse momento. Grávidas, crianças e pessoas com supressão do sistema imunológico, por exemplo. Como protegê-las? Se a maior parte de nós estiver vacinada, criamos um "cinturão" de imunidade, onde o vírus para de circular e não contamina as pessoas mais vulneráveis, como as já citadas, e, ainda, pessoas cujo sistema imune não foi capaz desenvolver uma resposta adequada à vacinação, como ocorre em pessoas muito idosas.


Por fim, cabe destacar que a vacinação é o que permite a prevenção mais efetiva contra os mais diversos tipos de doenças. Quando você recebeu as doses do Zé Gotinha, você estava sendo protegido e protegida contra doenças que, no passado, eram letais, e ainda são, se a vacina for deixada de lado. Sarampo, poliomielite, tétano, tuberculose, hepatites, e agora covid-19, são algumas delas. O negacionismo que vem do centro do poder é uma neblina da morte. Não se deixe levar por ela.


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