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  • Foto do escritorA coruja

Quanto vale a vida?




Não sabemos precisamente quanto vale a vida, porém sabemos que ela é muito valiosa. Não se trata do valor capitalista, monetário, que remete a dinheiro. Isso, não. Não há dinheiro que pague uma vida. Mas na sociedade capitalista, a vida, infelizmente, pode ser trocada por dinheiro.


Políticos roubam recursos da saúde em plena pandemia, inviabilizando compra de equipamentos, contratação de profissionais de saúde e abertura de vagas de enfermaria e de UTI em hospitais públicos. A consequência é visível: pessoas em filas enormes à espera de atendimento, sofrendo, e a morte como consequência última.


O extremismo também mata. A ganância e a sede de poder, quando sobrepostas ao sentimento de solidariedade e de empatia, ignoram completamente o sofrimento humano. Vimos o presidente da república comemorar um suicídio de uma pessoa que estava no ensaio clínico da vacina CoronaVac, pois ele considerou ser argumento plausível para abrir fogo contra a vacina “da China” e “de João Doria”, alheio a qualquer atenção mínima a protocolos de pesquisa e respeito à vida e à dor dos familiares. Surge então a suspeita de interferência política na Anvisa.


Será que algum país em estado de anomia e instabilidade política está experimentando experiência semelhante à nossa? Tem paralelo no mundo um país democrático, do tamanho do nosso, enfrentando tamanho absurdo? O único talvez seja o EUA. Mas este, no presente momento, não é bom exemplo para nós.


Da cúpula do poder ao solo árido do nosso dia a dia, vemos a banalização da morte. Em muitas cidades brasileiras, um jovem negro que morre assassinado, na maioria das vezes não gera comoção na sociedade. Nesta semana uma criança de 7 anos foi morta pela polícia, em Salvador. Engraçado como, nas supostas trocas de tiro, as balas “perdidas” sempre têm endereço e corpo certos. A criança era negra, e o bairro, periférico. Não gerou tanta comoção nas redes sociais e o assunto se encerrou com a reportagem.


Todavia não precisa ir tão longe, basta observar o nosso dia a dia. Na nossa cidade, seja ela interioriana ou metropolitana, a morte tornou-se banal. Um jovem negro que é alvejado enquanto trabalha, e vai a óbito no local, sob o escrutínio do preconceito, provavelmente “é bandido”, “tá mexendo com droga”. Como os julgamentos são rápidos e cortantes! Tão simplórios quanto racistas, é a opinião do afegão médio. Mas muito cuidado: Brecht, num poema atemporal, nos lembra que muitas vezes fechamos os olhos ao padecimento de quem nos é alheio; mas amanhã, se formos nós os acossados, a quem recorreremos, se condenamos?


O Atlas da Violência, publicado este ano, demonstrou que, em 2018, 75,7% das vítimas de homicídio no país eram negras e pardas. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes é de 37,8 para negros e 13,9 para não negros. Entre as mulheres, as negras também são as maiores vítimas dessa realidade cruel, representando 68% do total de mulheres assassinadas no Brasil.


Sem comoção, sem nota de pesar, sucessivamente histórias humanas são riscadas do mapa pela violência e pela condenação da pobreza para virarem estatística. Sob o comando de um genocida e de coração tomado pelo ódio, parece que um país inteiro pode adoecer. A situação já não era das melhores, mas agora ela, no decorrer da lentidão dos dias, parece piorar. Pois, para onde quer que olhe, a voz que grita mais alto é a omissão.

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