A oposição, num regime democrático, é um elemento essencial para balizar o poder. Como o próprio nome diz: oposição é aquilo que se coloca numa posição contrária à do governo. Na minha opinião, não necessariamente ela tenta barrar tudo que o governo propõe. Que isso fique para os demagogos sem causa. Se for algo bom para a população – o bem comum é que deve nortear as decisões – que seja discutido por todos e, se houver condições, que seja aprovado.
Mas ela tem um papel próprio das democracias, que é de manter viva a voz dos derrotados nas urnas, e que também têm direito a espaços no poder, que, afinal, é de todos – do povo. O contrário disso, poder concentrado nas mãos de um ou de poucos, é ditadura.
Em Valente, por exemplo, onde está a oposição? Os movimentos ainda tímidos de alguns partidos de esquerda não assumiram ainda, na minha opinião, o verdadeiro papel de quem quer se mostrar diferente do poder estabelecido e dos seus já evidenciados prepostos. Temo que a chamada situação vença antes mesmo da largada da corrida eleitoral, que, em última análise, já foi dada.
Mas nem tudo está perdido, e nem há sinal de que quem pensa numa Valente de todos e não de poucos teve o coração substituído por uma pedra. Para manter acesa a chama da democracia em Valente, é necessário o reavivamento da oposição democrática progressista, perspicaz e propositiva. A ideia de uma Frente Popular, portanto, não é de todo absurda quando o assunto é vencer o atraso e o bolsonarismo.
Uma Frente Popular deveria, no melhor dos cenários, reunir os partidos de oposição ao governo e deliberar pelo seu melhor representante em decisão conjunta, apoiando-o nas majoritárias. Ora, sem isso, que opção surgirá a não ser confraternizar com quem já há muito tempo vem soltando os rojões da vitória? É por prepotência mesmo ou tem um componente de felicidade pela derrota antecipada dos adversários?
PDT, PT, PSB, PCdoB, PSOL, REDE... já não resta dúvida de que esses partidos têm muito mais semelhanças programáticas do que diferenças. Aliás, ousaria dizer que as diferenças estão mais no plano pessoal do que nos planos partidários, tendo em vista que todos estão no mesmo campo popular de oposição a nível nacional. Vide o movimento Janelas pela Democracia, que congrega todas essas siglas. O que explica esse racha despropositado a nível municipal?
Essa Frente, contudo, só será um gesto devidamente aglutinador, seja de legendas ou de setores da sociedade, se for pela luta de causas concretas dos anseios populares. Um movimento de oposição apenas pelo poder estará fadado à dissolução, seja por rachas internos (quando interesses individuais se sobrepõem aos interesses coletivos), seja pelo abandono puro e simples por parte dos militantes.
Os questionamentos são muitos, mas a hora é de propor. A ala progressista municipal, pela sua importância histórica, deve assumir seu papel de revelar aos cidadãos valentenses que existem projetos de oposição na cidade, inclusivos e democráticos, que visam a união de Valente em torno do sonho comum de uma cidade melhor para todos.
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