“Vai ser difícil guerrilha do coração Vai ter comício contra a contradição O tempo voa no jingle da televisão” – Breve, Pouca Vogal
A ânsia por votos não raramente faz um candidato agir de forma distinta do que lhe é natural. Da adoção da demagogia como modus operandi, à comportamentos e atitudes grosseiramente irracionais.
Demagogia, para aqueles que não estão habituados com o significado do termo, é a adoção de práticas, especialmente em época de campanha, visando a manipulação das massas com discursos falaciosos, emotivos, mentirosos e até mesmo religiosos. A demagogia é a estratégia política dos populistas, afeitos ao discurso raso e fácil, à promessa vazia e até mesmo à escancarada compra de votos, que é a degeneração da democracia.
Em vez de sentar e congregar os munícipes em torno de um debate sério sobre um modelo de sociedade que seja justo e que busque o bem comum, o populista vai dar um tapinha nas costas do provável eleitor, falar mal do adversário e pagar uma rodada de cerveja, dizendo que é a única solução. Ele, não o projeto (repare bem na vírgula depois do pronome). Política de boteco.
“Eu não estou comprando seu voto, estou lhe dando uma ajudinha” diz o mandrião.
Se uma pessoa vende o próprio voto, é ela a única culpada pelo “sistema” ser do jeito que é? Em todo ato de corrupção há dois lados: a corrupção passiva (quem recebe a vantagem) e a corrupção ativa (quem promove a vantagem ou promessa dela). No caso da administração pública, não envolve só dinheiro, mas também promessas de cargos e outras benesses.
É fácil para quem está de barriga cheia condenar apenas a parte fraca da história, o eleitor pobre e necessitado. Não que seja esta a realidade de todo eleitor que vende o próprio voto, mas é fácil perceber que ele será o alvo, visto ser o mais vulnerável. Então, é ele o único responsável por esse distúrbio da nossa democracia? É evidente que não. Esse sistema perverso só persiste por causa do corruptor-candidato, do qual parte a iniciativa que explora a pobreza para obter vantagens pessoais na política. E o voto, convertido em mercadoria (comprada no atacado e no varejo), faz da eleição um grande mercado. Marx diria que se trata de uma relação "entre objetos".
Risinhos, cara de bons amigos, dancinhas, muito som e muita lambada. Refletores nos olhos cegam mais do que iluminam. Os debates, tão necessários para a democracia, não acontecem. Se até capitais como São Paulo e Rio estão tendo dificuldades, frente ao boicote realizado pelas grandes emissoras, imagine nos interiores... o espaço que sobra, afinal, é o da propaganda, no eterno jogo de propor o óbvio.
É bom pensar que tudo poderia ser diferente a partir de 2021. O problema é que sobram argumentos contrários e faltam argumentos a favor. A juventude poderia, e pode, afinal, representar o anseio da renovação que floresce, ainda que em terreno podre e pantanoso, entre as mentes e corações Brasil adentro. Mas nenhuma planta cresce se estiver sob um carvalho, ela antes precisa adquirir independência e se desfazer das amarras sufocantes dos arbustos.
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