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Foto do escritorA coruja

o pecado dos pregadores




Diz um adágio popular que o pecado do pregador é mais grave do que do pecador. É verdade que todos os seres humanos são falhos e mesmo o sumo pontífice, o Papa Francisco, não está isento de cometer erros.


Assim, suponhamos o seguinte cenário, num evento hipotético: digamos que o Papa Francisco, numa dada homilia de Páscoa (a homilia é o comentário do Evangelho, depois de sua leitura, por ocasião da missa), pregue a abstenção da gula e do desperdício de comida, diante de tantos milhões de seres humanos que passam fome e até morrem dela pelo mundo todos os anos.


Logo depois dessa homilia, pregando a frugalidade, suponhamos ainda que o Papa fosse flagrado comendo num suntuoso banquete reservado a ele e aos secretários do Vaticano, regado a vinho e sobremesas diversas.


É evidente que, se isso ocorresse, o Papa receberia diversas críticas. Como, horas antes, estava pregando contra a gula, e logo depois desfrutava de luxuosa refeição? Seria o que se chama de pecado do pregador. Mas Francisco, a bem da verdade, é um homem realmente muito simples e até já disse que “a comida jogada fora é como que roubada dos que não podem tê-la, é como tirar da mesa dos pobres; e dar mais atenção ao dinheiro que à vida humana indefesa é indignante”.


No contexto de pandemia, quando a OMS nos recomenda ficar em casa o quanto pudermos, evitar aglomerações, usar máscara e fazer o distanciamento social, a conduta correta de líderes políticos, governantes e profissionais de saúde é fundamental, pois eles servem de espelho num momento como esse. O papel deles é o dos pregadores.


Todavia, a confusão generalizada e a desorganização dos poderes estão gerando uma espécie de desintegração social, onde os efeitos prolongados da quarentena estão afetando a saúde mental das pessoas, e muitas delas já não estão respeitando mais as recomendações da OMS. E percebe-se que entre elas, há os pregadores. Perdoemos os pecadores, mas os pregadores, como perdoá-los? Vários deles, que deveriam dar o exemplo, estão promovendo aglomerações e desrespeitando as regras de distanciamento. E mais: já não lhes comove ver seus concidadãos se exporem ao risco de se infectar e infectar outras pessoas, e certos governantes até insistem num tom propagandístico de “curados”, num placar numérico, desconsiderando completamente eventuais sequelas da doença e politizando a recuperação das pessoas.


A sociedade, cansada, desnorteada, não sabe quem ouvir. O Presidente da República, reconhecido genocida, parece dar o tom da catástrofe. E muitos o seguem: não usam máscara, aglomeram em bares, minimizam a gravidade da situação. A ciência lhes parece uma linguagem distante e difícil. E, como um ciclo vicioso, quanto mais há desrespeito às recomendações das autoridades sanitárias e falta planejamento no combate à crise, mais os efeitos da pandemia se estendem no tempo e no espaço, e mais as pessoas ficam ansiosas e voltam a romper a quarentena.


Mas nem tudo está perdido, pois nunca é tarde para refletirmos sobre a sociedade que nós queremos. Vai ser uma sociedade mesquinha, cada vez mais desintegrada, movida única e exclusivamente pelos interesses pessoais? Ou será uma sociedade menos desigual e pautada na solidariedade? A solução para esses problemas não cai do céu, ela é construída, por todos. E depende da atuação conjunta e coordenada, de todos. Se não, cada vez mais cairemos no comodismo e repetiremos, abobalhados, o título do filme americano, “assim caminha a humanidade”.

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