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  • Foto do escritorA coruja

O kit-covid é o novo kit-ilusão



A notícia de que o Ministério da Saúde vai gastar R$ 250 milhões com os chamados “kit-covid” pegou a comunidade científica de surpresa, tamanha a imbecilidade da decisão.

Os kit-covid são um conjunto de três medicamentos (HCQ, ivermectina e azitromicina) que, até então, vinham sendo distribuídos para pacientes que testaram positivo para a doença causada pelo coronavírus, o Sars-Cov-2.


Seria louvável esta decisão por parte do Ministério, não fosse um sutil, mas fundamental detalhe: não há, até o presente momento, nenhum estudo científico, publicado em revistas relevantes da área médica, que ateste a eficácia destes medicamentos, isolados ou em conjunto, no tratamento da Covid-19.


Os estudos publicados até o momento, entretanto, dizem justamente o contrário. Que estes medicamentos de fato não trazem nenhuma melhora clínica detectável em comparação ao suporte usual – anti-inflamatórios, analgésicos e antipiréticos comuns (no popular, dipirona, ibuprofeno, etc).


Citando apenas alguns: saiu recentemente no New England Journal of Medicine (NEJM), um estudo multicêntrico, randomizado, aberto, onde 667 foram distribuídos em três grupos – um recebeu o tratamento padrão, outro, tratamento padrão mais hidroxicloroquina e o terceiro tratamento padrão + HCQ + Azitromicina.


A conclusão foi que pacientes hospitalizados com Covid-19 leve a moderado, em uso de hidroxicloroquina isolada ou associada à azitromicina não melhorou o quadro clínico de pacientes em comparação com os que receberam apenas o tratamento usual de suporte, resultado semelhante ao obtido em outro estudo publicado no The British Medical Journal (The BMJ).


O mesmo periódico, em outro estudo com 821 participantes, procurou entender o efeito do uso da hidrocloroquina após a exposição ao vírus, ou seja, saber se o medicamento poderia ser útil na prevenção da doença, mas também não encontrou nenhum benefício.


Quanto à ivermectina, remédio tradicionalmente usado como antiparasitário, há que se considerar a ausência de estudos robustos, do tipo ensaios clínicos randomizados, que demonstrem a eficácia do medicamento no tratamento e/ou profilaxia da Covid. Nesse sentido, seu uso, apesar de permitido, é meramente “experimental”, sendo que há estudos em andamento sobre o tema, no Brasil e no mundo.


Por conseguinte, não é exagero falar que “kit-covid” = kit-ilusão. Em vez de torrar inutilmente milhões de reais em perfumaria que em nada ajudarão a não ser iludir, o Ministério da Saúde deveria estar engajado 24 horas por dia na consolidação de um plano de vacinação efetivo para imunizar os brasileiros contra esta doença letal. A briga política e a omissão neste momento significam vidas perdidas de forma absolutamente inaceitável e irresponsável, incorrendo até mesmo em genocídio.


Referências:


CAVALCANTI, A.B et al. Hydroxychloroquine with or without Azithromycin in Mild-to-Moderate Covid-19. N Engl J Med 2020; 383:2041-2052 DOI: 10.1056/NEJMoa2019014


HORBY, P.W et al. Azithromycin in Hospitalised Patients with COVID-19 (RECOVERY): a randomised, controlled, open-label, platform trial. COVID-19 SARS-CoV-2 preprints from medRxiv and bioRxiv


Portmann-Baracco A, Bryce-Alberti M, Accinelli RA. Propiedades antivirales y antiinflamatorias de ivermectina y su potencial uso en COVID-19. Arch Bronconeumol. 2020;56:831.


BOULWARE, D.R, et al. A Randomized Trial of Hydroxychloroquine as Postexposure Prophylaxis for Covid-19. N Engl J Med 2020; 383:517-525 DOI: 10.1056/NEJMoa2016638


TANG, W. et al. Hydroxychloroquine in patients with mainly mild to moderate coronavirus disease 2019: open label, randomised controlled trial. BMJ: first published as 10.1136/bmj.m1849 on 14 May 2020.




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