Em 1972, Tom Zé fazia sucesso com uma canção que dizia assim:
Neste momento, ele cantarola um trecho de uma de suas composições mais famosas.
Essa canção, uma espécie de samba, tocava nas rádios, e em sua composição fora forjada uma sofisticação de harmonia que é quase irresistível afirmar que ela é toda um plágio.
O primeiro plágio é o da forma. Naquele tempo, Antônio Carlos e Jocafi davam como que “as regras” do mercado, numa estrutura musical que tinha mais ou menos a seguinte malandragem:
Era uma primeira parte em tom menor, no caso, Gm (sol menor), e tinha que falar de dor de cotovelo, e não precisava ter tanto sentido; era até mesmo necessário que a sintaxe fosse meio confusa, e lembrasse algo como “luz de boate”, que era o lugar onde eles mais cantavam;
Então não precisava dizer nada, como isso de fato não diz: “se o caso é chorar/te faço chorar/se o caso é sofrer/eu posso morrer de amor...”
O refrão é plágio ao mesmo tempo dos Beatles e dos Rolling Stones: “amor deixei/sangrar meu peito/ tanta dor/ninguém dá jeito...”
Já a segunda parte é uma colagem, não tem sequer uma palavra de Tom: “/Hoje quem paga sou eu/ – tango do Nelson Gonçalves; “/o remorso talvez/” – Nupicínio Rodrigues; “/as estrelas do céu/também refletem na cama/” – inversão de uma letra de Caetano Veloso; “/de noite na lama/” – Ary Barroso, em “Risque”; “/no fundo do copo/” – Adelino Moreira e Evaldo Gouveia; “/rever os amigos/me acompanha o meu violão.../” – Nelson Gonçalves em “A Volta do Boêmio”.
E pra fechar, a harmonia também não é dele. Trata-se de uma adaptação de uma das composições de Chopin para o piano.
Músicas têm histórias, compostas muitas vezes por várias histórias, que se entrelaçam numa colcha de retalhos cujo resultado final é, em si, de uma originalidade gritante. É o caso de “Se o Caso é Chorar”.
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