Darcy Ribeiro (1922-1997) foi um dos maiores intelectuais da história do Brasil. Um intelectual como poucos: multifacetado, inquieto, genial e do povo.
Diferentemente dos muitos intelectuais que lhe precederam ou que lhe eram contemporâneos, Darcy amava o povo brasileiro tal como ele é, e como ele gostava de dizer: “[O Brasil é] uma nova Roma, lavada em sangue negro e sangue índio, destinada a criar uma esplêndida civilização, mestiça e tropical, mais alegre, porque mais sofrida, e melhor, porque assentada na mais bela província da Terra.”
Era um homem da luta, e não da retaguarda rendida; não fugia aos clamores do povo e não se encerrava em gabinetes para pensar o país apenas nas frias páginas de um livro e suas teorias, mas ia a campo, e assim viu e ouviu de perto as dores do povo, e o compreendeu.
Foi amigo e colaborador de figuras ímpares da história brasileira, revelando assim sua versatilidade: com Rondon, se dedicou à causa indígena e ajudou a criar o Parque do Xingu e o Museu do índio; com Anísio Teixeira, pensou a Educação brasileira, e ajudou a fundar a Universidade de Brasília; em 1964 esteve na linha de frente, junto a João Goulart, no enfrentamento à ditadura que punha a democracia no cadafalso; com Leonel Brizola, criou os CIEPS no Rio de Janeiro e o Sambódromo, para o qual teve uma ideia que só um gênio teria: inventou uma escola de tempo integral debaixo das arquibancadas, com capacidade para 4 mil alunos, que só não funcionava na semana de carnaval.
Esses são apenas alguns dos seus feitos, vale ressaltar.
Darcy também tinha uma preocupação com a juventude: não somente aquela abandonada, desmerecida e marginalizada pelos sucessivos governos elitistas e ditatoriais do Brasil, mas, já no fim da sua vida, a juventude que perdeu o vigor e a chama da luta política, tornando-se apática aos problemas nacionais e entregando-se apenas aos interesses puramente pessoais. Num texto de 1994, intitulado “Fala aos moços”, ele fez duas recomendações aos jovens, em tom quase de pilhéria, após uma pequena introdução:
“(...) Primeiro, que não respeitem seus pais, porque estão recebendo, como herança, um Brasil muito feio e injusto, por culpa deles. Minha também, é claro. Segundo, que não se deixem subornar por pequenas vantagens em carreirinhas burocráticas ou empresariais pelo dinheirinho ou dinheirão que poderiam render.
Mais vale ser um militante cruzado, acho eu.
Vejo os jovens de hoje esvaziados de juventude, enquanto flama, combatividade e indignação. Deserdados do sentimento juvenil de solidariedade humana e de patriotismo e de orgulho por nosso povo.”
Apesar dessa fala ser de 26 anos atrás, ela não perdeu sua atualidade, tornando-se atemporal, como a própria totalidade do trabalho deste grande brasileiro, que nos ensinou e ainda tem muito a nos ensinar, principalmente nestes dias tão sombrios.
“Como é que uma nação pode perder o amor por suas crianças? Como elas podem estar soltas no mundo, abandonadas? O Brasil não tem um bezerro abandonado, um cabrito. Um frango qualquer que você encontra, tem dono. Mas tem milhares de crianças abandonadas”
Darcy Ribeiro
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