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  • Foto do escritorA coruja

a isenção diante da terra arrasada

Atualizado: 30 de jul. de 2020



Primeiro levaram os negros

Mas não me importei com isso

Eu não era negro


Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso

Eu também não era operário


Depois prenderam os miseráveis

Mas não me importei com isso

Porque eu não sou miserável


Depois agarraram uns desempregados

Mas como tenho meu emprego

Também não me importei


Agora estão me levando

Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém

Ninguém se importa comigo.


Bertold Brecht


A isenção política é uma característica interessante dos nossos tempos. Nela, o indivíduo escolhe não ter lado, não se manifestar politicamente e exibe um certo desinteresse aos acontecimentos de caráter nacional/estadual/municipal - quando muito, até acompanha, pois a todo momento somos bombardeados por escândalos da seara político-partidária que repercutem nas redes sociais e é quase impossível não ler uma linha sequer sobre política na nossa vida cotidiana.


Essa isenção é um direito de todas as pessoas, que fique claro. Há muita gente que ainda não amadureceu para a vida política em sociedade (mesmo sendo membro dela), e diante das complexas relações de poder que muitas vezes priorizam interesses pessoais de ascensão social e ocupação de cargos por puro pragmatismo da vida social, sem projetos claros e sem o espírito republicano que a vida pública exige, as pessoas encaram a política como um ambiente sujo e reservado a quem está disposto a vender a alma ao diabo.


No entanto, não é bem por aí. O poder não é compatível com o vácuo. Isso quer dizer que ele sempre será ocupado - por gente boa, compromissada com os interesses sociais e com a ética, mas também por gente não tão compromissada, para não se falar na disposição a práticas corruptas. Assim, cabe a nós tentar ocupar esses espaços. Quando digo nós, não me refiro a um grupo específico de pessoas ou a uma classe social ou estamento militar - falo da sociedade como um todo. Sendo o Brasil um país de baixa energia democrática, é necessário incutir nas pessoas um interesse genuíno pela política.


Isso afasta as pessoas da chamada “isenção” e as aproxima do ambiente do debate político. E por que isso é importante? Como foi dito: o poder não é compatível com o vácuo. Se a sociedade como um todo, e suas respectivas representações, não buscam seu espaço na ocupação do poder, ele será ocupado invariavelmente pelos aliados mais chegados e que já ocupam a máquina pública, e que estão dispostos a injetar até mesmo escandalosas somas de dinheiro para financiar projetos de poder. Ou seja, se a sociedade não se mobiliza, os chamados “donos do poder” continuam mandando e desmandando diante dessa isenção infrutífera que nos afasta do debate. Quando as decisões realmente importantes forem tomadas, nós não estaremos lá, portanto nossa reclamação diante dos erros e faltas será vã.


É preciso, portanto, que tomemos partido das decisões que afetam nossas vidas. Entrar num partido político a partir de uma identificação ideológica e programática é um bom começo, mas não necessariamente a filiação a um partido é uma regra. O que é importante é o interesse pela política como forma de tomar nas nossas mãos nosso destino e não ficar eternamente dependentes de uma figura paternalista ou salvadores da pátria. Está na hora de sermos nós mesmos agentes de nossa história enquanto sociedade organizada.


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